Setembro
chegou de mansinho na zombaria noturna de um sábado amanhecido. Assim, bem
cedo, entre os jasmins, tão só. Trajando vestes de ouro, trouxe na bagagem de
palha, duras lembranças dos outros meses partidos. Prantos e saudades que se
exprimiam em seu bolso do peito. Na festa de boas vindas, chegou logo
procurando lugar para sentar, sedentário e pouco apetitoso, estava ele também
cansado do vasto peso que dão ao seu robusto corpo.
Já
não era tempo, mas se assim o tivessem, decerto, muitos o adiariam. Os sábios
fugiriam para o monte, e um monte para Deus, enquanto o Setembro apenas chora
as suas perdas. Mórbido e órfão de paz. No entanto, consolado ao ver, a vívida
Esperança e esperançosa Vida brincando de existir no campo de um novo dia,
verdinho...
Infelizmente,
alguns troncos secos de árvores não suportaram o vento forte do agosto - que de
tanto desgosto precocemente morreu, embebecido. – e mesmo desconhecendo o sabor
do gosto de Deus, a cidade cobriu-se de rendas finas do mais puro luto. E mais
uma vez, ali estava Setembro no sepulcro, sob o lar de suas antigas sombras,
regando as sementes do amanhã. Sonâmbulo entre o pó e a cegueira, o sólido e o
intragável. Rompendo com a fé, e resgatando o impossível nos ombros. Mas
ninguém o viu chegar, preocupados com o tempo, e ocupados no futuro do
Dezembro, lamentando o dia em que o ano também morrerá.
Amoroso,
o nono mensageiro se fragmenta, auto-subdivide-se nas mãos, em sacrifício do
tentar de novo; sabendo que logo será o próximo, mas que nem o seu último dia
será o derradeiro. Derrama-se no holocausto, pinta o ano de novas nuances, nos
ensinando que o importante é Amar os elos que com outros nós criamos, os
caminhos os quais andamos, os amores que amamos, e a intensidade que
normalmente nos doamos.
Admirável.
Ainda que injustiçado, o mês entrega as suas partes montáveis para que,
aprendam: todos os outros também são setembros, e que as dores não marcam datas
para arderem. Tudo passa, e logo será um novo dezembro, mas para que se possam
aproveitar as festas, é preciso enfrentar primeiro, as frias chuvas do Novembro.
Marlon Pereira é aluno da Universidade Federal de Rondônia
Campus de Guajará - Mirim
Nenhum comentário